A Odontologia exerce um papel importante na preservação da saúde bucal e tem impacto na saúde geral da população. Até mesmo em doenças raras, como a Síndrome de Moebius, a Odontologia cumpre uma função importante nos tratamentos de saúde.

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A presidente da Câmara Técnica de Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP), Dra. Juliana Bertoldi Franco, explica que a Síndrome de Moebius é definida como uma desordem neurológica congênita rara, com características de paralisia dos nervos cranianos que compromete os movimentos laterais dos olhos e a expressão facial, resultando em uma ausência de expressões, além da incapacidade de mover os olhos para os lados. A característica é evidente desde os primeiros dias da vida da pessoa.

Desafios

Os pacientes com a Síndrome de Moebius enfrentam diversos desafios, desde a alimentação, por meio de disfunção na sucção e deglutição, até dificuldades no desenvolvimento motor,
como o pé torto.

“Os desafios enfrentados por pacientes com a síndrome são amplos e envolvem múltiplos sistemas. Em termos de comunicação, a paralisia facial pode prejudicar tanto a articulação da fala quanto a expressão emocional, enquanto alterações auditivas também podem estar presentes”, esclarece a cirurgiã-dentista.

Causa e diagnóstico

A origem da Síndrome de Moebius não tem uma definição específica, porém está associada a interrupções no fluxo sanguíneo do tronco encefálico durante o desenvolvimento embrionário, podendo ser ocasionada por fatores genéticos, mutações em genes específicos, diabetes de difícil controle, hipertermia, exposição da gestante a infecção, utilização do misoprostol, do álcool, da cocaína, da talidomida e de benzodiazepínicos, entre outros.

A Dra. Juliana esclarece que o diagnóstico clínico é baseado em sinais característicos da face, mas também ocorre por exames de imagem, como a ressonância magnética (RM), que auxiliam na precisão do diagnóstico, além de poder excluir outras condições neurológicas. Em alguns casos, exame genético também pode ser indicado para saber se há questões hereditárias.

“A expectativa de vida, em geral, é normal na ausência de condições graves associadas, como malformações cardíacas ou renais. No entanto, complicações respiratórias, apneia do sono e infecções recorrentes podem exigir cuidados de saúde especializados ao longo da vida”, afirma a especialista.

Papel da Odontologia

A Odontologia possui um papel que está além da saúde bucal para os pacientes com Síndrome de Moebius, visto que eles enfrentam adversidades anatômicas, funcionais e emocionais. Em
meio a todas essas questões é importante uma abordagem multidisciplinar no tratamento visando melhorias nas anomalias craniofaciais e nos aspectos estéticos e sociais.

O suporte técnico por meio de aparelhos ortodônticos pode se tornar necessário em certos casos, como as intervenções cirúrgicas que auxiliam na reabilitação funcional. Planejamento ortodôntico cuidadoso e, em casos mais severos, procedimentos cirúrgicos ortognáticos podem ser indispensáveis.

“Dispositivos protéticos, como próteses parciais ou totais, e tratamentos ortodônticos visam corrigir as más oclusões e restaurar a eficiência mastigatória, permitindo uma alimentação mais adequada. O tratamento preventivo se faz ainda mais necessário em pacientes com Síndrome de Moebius, considerando que eles possuem vulnerabilidades que podem comprometer a saúde oral. Os desafios passam pela anatomia oral e a funcionalidade limitada da musculatura perioral”, explica a presidente da Câmara Técnica de Odontologia para Pessoas com Necessidades Especiais.

É importante que o cirurgião-dentista implemente estratégias personalizadas, considerando as limitações físicas do paciente. A educação em saúde bucal, adaptada às particularidades motoras, é fundamental.

Impactos na saúde

Pessoas com paralisia facial são afetadas com disfunções básicas, como o controle da saliva e o fechamento labial. Tais características promovem dificuldade de deglutição e o acúmulo de biofilme dentário, aumentando o risco de ter cárie e doença periodontal.

“A ausência de expressões faciais, causada pela paralisia facial, e a limitação dos movimentos oculares laterais podem dificultar interações sociais e causar estigmatização. Essas características muitas vezes levam a mal-entendidos sobre as emoções do paciente, resultando em isolamento social, baixa autoestima e, em alguns casos, ansiedade ou depressão. Durante a infância, essas dificuldades são ainda mais evidentes, afetando a capacidade de formar amizades e participar plenamente da vida escolar. O atendimento odontológico é fundamental para promover a saúde bucal e eliminar os fatores inflamatórios e infecciosos que podem levar a mais complicações e impactos na qualidade de vida”, finaliza a Dra. Juliana.

Sobre o CROSP
OConselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP) é uma autarquia federal dotada de personalidade jurídica e de direito público com a finalidade de fiscalizar e supervisionar a ética profissional em todo o Estado de São Paulo, cabendo-lhe zelar pelo perfeito desempenho ético da Odontologia e pelo prestígio e bom conceito da profissão e dos que a exercem legalmente.

Hoje, o CROSP conta com mais de 175 mil profissionais inscritos. Além dos cirurgiões-dentistas, o CROSP detém competência também para fiscalizar o exercício profissional e a conduta ética dos Técnicos em Prótese Dentária, Técnicos em Saúde Bucal, Auxiliares em Saúde Bucal e Auxiliares em Prótese Dentária.

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