Por Marcos Kopeska Paraizo

Recentemente preguei uma mensagem acerca das características do culto aceito por Deus. Preparei, estudei, orei, pesquisei, mas confesso que após a pregação proclamada e a felicidade do senso de dever cumprido, o tema continuou a martelar em minha consciência pastoral. Sendo assim, não consigo engavetar aquilo que creio ser importante a todos nós cristãos da pós modernidade e volto a expandir o sermão, numa segunda rodada, na forma escrita. 

A banalização do sagrado é sistematicamente denunciada nas Escrituras. Por exemplo, o profeta Malaquias denunciou com severidade o desrespeito dos sacerdotes em relação à santidade do nome de Deus, do culto, do casamento e dos dízimos.

A religiosidade do povo de Deus era divorciada da lei divina. O ritual acontecia de forma habitual, o povo vinha ao templo ordinariamente, o culto era celebrado regularmente, mas Deus não era honrado pelos religiosos com a compreensão e interiorização do sagrado. Jesus condenou, também, a banalização do sagrado quando expulsou os mercenários do templo.

A rotina do sacrifício levava os “clientes do templo” a comprarem de última hora os “objetos do sacrifício”, como um torcedor compra um ingresso no lado de fora do estádio, negociando com o atravessador, dez minutos antes do início da partida.

Os “atravessadores do templo”, por sua vez, vendiam o mesmo “objeto do altar” várias vezes, visto que o “cliente” escolhia qualquer cordeiro, pagava, virava as costas e seguia a vida de consciência limpa – ao seu ver – por haver cumprido a sua parte. Nesse caso os cambistas, sabendo que os clientes não voltariam para conferir se o sacrifício foi ou não factualmente concluído com aquele cordeiro (exatamente aquele pelo qual pagou), esperavam por algumas horas e depois colocavam o mesmo cordeiro a venda para que outro “apressado e muito ocupado” passasse e comprasse o mesmo cordeiro.

Concluindo, os cambistas ganhavam duas, três ou quatro vezes, o mesmo valor sobre as “cordeiros dos crentes ligados no automático”. Quando Jesus expulsou os mercenários dos templo e virou as mesas, o comércio era apenas o desdobramento da banalização do serviço do templo. 

A justificativa da pressa e da ocupação levam homens e mulheres à automação existencial e espiritual. Lembro-me de uma narrativa que ouvi a respeito de um evento que uma igreja da grande São Paulo fez em uma comunidade carente.

No dia agendado para a ação cidadã, alguns irmãos da igreja enviaram seus funcionários para suprirem suas ausências, justificando a falta de tempo. É o amor terceirizado. Amor, serviço e evangelismo são elementos sagrados, individuais, pessoais e intransferíveis, portanto não podem ser terceirizados. Gente ligada no automático perde a alegria em estender a mão ao necessitado, perde a espiritualidade da adoração, perde o discernimento e por fim, corre o risco de valorizar o profano e banalizar o sagrado. 

Banalização é a ação de tornar algo com sua imagem desgastada, ou algo de importância que passa a se tornar menos importante pela exaustão da repetição de um determinado assunto.

Por exemplo, “banalização da violência”, pode expressar que, de tão comum, algo tão sério acabou virando rotineiro em razão da massificação das mídias. Banalização (banalizar + ção) é o substantivo construído a partir do verbo banalizar (banal + i + zar), que indica a ação de tornar banal (comum, corriqueiro, costumeiro, aceitável facilmente, incorporável…), com origem na forma francesa arcaica “ban” – . 

Banalização pode significar ainda “vulgarização”. Banalizar é deixar que algo perca a importância em razão da repetição. É uma das estratégias mais eficazes para destruir, em definitivo, o poder de um fato, a nobreza de algo ou a legitimidade de uma ideologia saudável. A escritora e filósofa judia Hannah Arendt assistiu e descreveu o julgamento de Adolf Eichmann, um dos responsáveis pelas atrocidades cometidas pelos nazistas.

Foi nesse grande momento que ela escreveu sobre a tese “Banalidade do mal, discorrendo sobre o mal banal do indivíduo. O fato de alguém ver o mal, conviver com o mal, estar cercado pelo mal, faz com que o indivíduo em algum momento interprete o mal como um elemento comum em qualquer âmbito da existência. A repetição da rotina acabou por romper o filtro moral e ético. 

Enfim, a rotina da vida cercada pelo hedonismo, consumismo, materialismo e outros ismos, ofuscam nossa visão sobre valores inestimáveis. Repetimos as rotinas de culto, de adoração e de oração ligados no automático e corremos o risco de respondermos a Deus de forma banal. Que o Senhor nos conscientize e nos abençoe. 

Marcos Kopeska Paraizo

Grad. em Teologia, pós grad. em Saúde Mental e Psicopatias, pós grad. em Terapia Familiar Sistêmica, escritor e colunista. 

Pastor da IPI de Chapadão do Sul.

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