Pela terceira vez consecutiva o percentual de famílias que relataram ter dívidas a vencer aumentou. Em maio de 2024, 78,8% das famílias estão endividadas, segundo Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O percentual também está acima  do nível de maio de 2023 (78,3%).

Apesar do endividamento, os dados apontam que a inadimplência foi estabilizada. O percentual de famílias com dívidas em atraso manteve-se em 28,6% pelo segundo mês, abaixo do percentual de maio de 2023. 

Na avaliação da economista do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da FGV, responsável pela Sondagem do Consumidor, Anna Carolina Gouveia, a estabilidade da inadimplência sugere a possibilidade de diminuição das dívidas nos próximos meses, por conta da melhoria na renda e do controle da inflação. 

“Esse resultado sugere que, se essa tendência permanecer, mais pessoas podem conseguir diminuir seu endividamento nos próximos meses à medida que a renda continue melhorando, a inflação continue sendo controlada e os consumidores consigam se reorganizar novamente para poder deixar de se endividar, para poder pagar suas contas ou para poder consumir bens, produtos e serviços”, destaca Anna Carolina Gouveia.

Confiança do consumidor: calamidade no RS influencia queda em maio

Para o Head Strategy da Inteligência Comercial, Ícaro Coelho, a queda da taxa Selic está associada ao endividamento das famílias em maio.

“A queda da taxa Selic, que passou de 13,75% para 10,50%, facilitou o acesso ao crédito, aumentando a demanda por empréstimos e financiamentos. De forma clara, isso acabou gerando um endividamento das famílias devido à percepção falsa de um custo menor de crédito”, afirma Ícaro Coelho.

Ele prevê crescimento do nível de endividamento. “Para os próximos (meses), espera-se que o percentual de endividados continue crescendo, podendo atingir 80,4% até dezembro de 2024”, estima.

Dívidas em atraso 

Segundo a pesquisa, o percentual de famílias com dívidas em atraso por mais de 90 dias teve uma ligeira queda de 0,1 p.p. em relação ao mês anterior, chegando a 47,3% do total de endividados em maio de 2024.

Em contrapartida, houve aumento da proporção com atrasos entre 30 e 90 dias para 29,2%. Nesse caso, o tempo médio de atraso vem sendo reduzido, atingindo 64 dias em maio. Ícaro Coelho expõe que essa maior condição de pagamento pode estar atrelada à redução de juros e maior consciência financeira das famílias.

“A maior condição de pagamento, com redução do tempo médio de meses de atraso para 64 dias, geralmente está atrelada à maior consciência financeira das famílias e à redução dos juros, permitindo melhores condições de negociação das dívidas, além de programas do governo que facilitam o pagamento”, diz Ícaro Coelho.

Já a professora de MBAs da FGV, Myrian Lund, aponta que a ação das instituições financeiras com relação a dívidas, com vistas à renegociação, colabora para a redução da inadimplência. Ela aponta, ainda, as soluções do governo para renegociar as dívidas dos brasileiros. 

“Então, houve ação do governo e há uma ação dos bancos, cada vez mais proativos, usando até um pouco de finança comportamental junto ao público que atrasa as suas contas”, avalia Myrian Lund.

Recorte por região

O estado que apresentou o maior nível de endividamento foi Roraima (89,9%) no mês. Em maio, 16 unidades federativas apresentaram percentual acima do resultado nacional. 

Já em relação à inadimplência, o Rio Grande do Norte foi o estado que teve maior nível de famílias com contas em atraso (53,8%). O maior nível de famílias sem condições de pagar as dívidas atrasadas (20,0%) foi registrado pelo estado do Amazonas.
 

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